Saúde

Ansiedade

Mas afinal porque é que o nosso corpo gera em nós sintomas de ansiedade em situações que nos deixam mais desconfortáveis, se a ansiedade piora o nosso desempenho?

“Amanhã tenho uma apresentação para um auditório enorme.” “Tenho de ir tratar do que vou vestir na festa de sábado. Vai lá estar muita gente e não posso fazer má figura.” “O meu chefe disse que queria falar comigo amanhã. Não sei o que se passou, mas de certeza que fiz asneira.”.

 

Estes são alguns dos pensamentos que tipicamente estão associados a estados de ansiedade. Mas afinal porque é que o nosso corpo gera em nós sintomas de ansiedade em situações que nos deixam mais desconfortáveis, se a ansiedade piora o nosso desempenho? De facto, esta é a ideia que muitas das vezes associamos à ansiedade: uma emoção de cariz negativo que apenas nos prejudica e em nada beneficia.

Como qualquer emoção, a ansiedade apresenta uma função adaptativa perante situações específicas. Ou seja, é um estado emocional que nos deixa em alerta e sensíveis, para questões que facilmente nos passariam despercebidas, mas que poderemos corrigir e, dessa forma, melhorar até o nosso desempenho nas referidas situações. Para melhor compreendermos a ansiedade, torna-se imperativo que falemos primeiro da emoção e das suas características.

 

Podemos entender a emoção como uma resposta quer a estímulos internos e externos que vão gerar reações a diferentes níveis: fisiológicas (o aumento da frequência cardíaca que nos deixa numa situação mais vigilante e alerta), cognitivas (em situações que nos geram ansiedade, podem surgir pensamentos que nos levam a questionar as nossas opções e dessa forma encontrar novas soluções ou a estar mais seguros da opção tomada) ou comportamentais (por exemplo rever mais uma vez a apresentação que vamos fazer, ou tratarmos de algo importante com a devida antecedência).

 

Importa ainda perceber, que todas as emoções que conhecemos são compostas por diferentes características: a polaridade, o tempo e a intensidade. Debrucemo-nos então sobre esta última. Todos nós já devemos ter experienciado a mesma emoção com intensidades diferentes. Podemos sentirmo-nos tristes em diversas situações, mas se formos desafiados a colocar o grau de tristeza sentida numa escala de 0 a 10, provavelmente classificaremos as situações em níveis diferentes, consoante o nível de tristeza sentida. Talvez possamos considerar a intensidade como principal “culpada” pelo cariz negativo que atribuímos à ansiedade. Se realmente a ansiedade serve para nos ajudar, porque é que frequentemente nos leva a paralisar perante determinada situação, ou até nos leva a evitar ocasiões específicas? A resposta, muitas das vezes, está precisamente relacionada com a intensidade. Na verdade, a ansiedade apenas assumirá um papel adaptativo para o ser humano, quando sentida até determinado ponto. Quando aquilo que sentimos é uma emoção tão forte, em que muitas das vezes perdemos a perceção de capacidade para nos autocontrolarmos, esta emoção passa de adaptativa para altamente incapacitante, podendo mesmo tornar-se fonte de um enorme sofrimento psicológico.

 

Dr. José Garrett - Psicólogo e Coach em Saúde e Bem-estar